pronto!

Já há muitos anos, que pensando pela minha cabecinha, achei que, apesar da minha família ser católica romana em part time (baptizados, casamentos, funerais, crismas, procissões e afins), nada daquilo tinha a haver comigo. Recordo-me bem, de um dia estar aos pés de uma figura de Maria (com todo o respeito que merece é claro), e estar a perguntar-lhe: "Mas porque é que não falas? Porque não me respondes? "Tens boca...olhos...ouvidos..." e enquanto estava eu nesta "meditação" fui chamada à atenção pois estava demasiado debruçada sobre a imagem....acho que pensei que só assim era ouvida.
Recordo ainda a vez que me perdi, e que vim parar ao local dos velórios,  credo!!!!  Tão inocente, ou outra em que me senti são importante por estar no meio de umas 500 pessoas e um bispo (talvez) de Setubal ter vindo falar, e eu...ali...tão pequenina...ele a falar...também para mim...Pois mas a coisa não resultou!
A senhora não me respondeu, o senhor pregado também não saia do mesmo sitio e eu conseguia compreender o porquê...a minha catequista...quase com 100 anos (exagero...mas uns bons 80), não tinha paciência nenhuma para as perguntas que eu fazia...e a verdade é que em casa os meus pais também não! (pai agnóstico e mãe católica em part time) "Porque se reza o "pai-nosso"? Porque é que se reza a avé-Maria? Porque é que temos que passar o tempo todo a completar o que o padre diz, ele não sabe? porque não posso comer a bolacha?" E a resposta era quase sempre "porque não!"Ainda fiz parte do coral, com o maestro Videira...vejam bem...ainda deu tempo para isso...mas as musicas eram tão fúnebres que eu achava que a qualquer momento alguma estatua havia de tomar vida e fugir dali.
Depois, num desses momentos em que a minha mãe não estava de part time....ofereceram-nos um livros dos testemunhas de jeovã, com histórias bíblicas...eh pah...eu devora aquilo... as histórias brutais, David e Golias, Jezabel a cair da janela...enfim...brutal...mas passou...
O tempo passou...e eu fui mudando ainda mais...a certa altura, achei que todas as "cenas" das religiões era tudo uma grande treta...tudo para aprisionar o povinho.. que passava grandes dificuldades, como os meus pais...mas que havia qualquer coisa...havia....
Como todos os adolescentes passei para a cena do gótico, que ainda hoje a única coisa, que sabia, e sei, é que nos vestíamos de preto, ouvíamos The Cure, Jesus and Mary Chaine, e afins...mais nada, se calhar também era gótica em part time...
Mudei de escola, passei a ter um grupo de amigos diferentes..uns tipo rockabillys (se é assim que se escreve) que fixe!! que cena...calças de ganga muito justas, roupa mais colorida, um pouco de anos 60, muito fixe (também, só sei isto) E fazia parte da malta fixe da escola..ou seja dos mais velhos...todos os intervalos...na polivalente, ou poli, como lhe chamava-mos-lhe, estávamos lá todos, malta das turmas de desporto e meia dúzia de miúdas mais novas que estavam incluídas no grupo. Umas por serem paus-de-cabeleira, outras por namorarem com aqueles miúdos mais velhos e outras pelas duas coisas.
A minha madrinha que morada a uma hora daqui, passou a levar-me todos os fins de semana lá para casa, e então, eu já me comportava como uma adulta, discotecas até altas horas da noite, algumas bebidas...e isto tudo debaixo dos narizes dos meus pais...e durante uns 2ou 3 anos...
E tempo  não parou....estudámos Martinho Lutero, numa altura que havia um miúdo cristão muito interessado na minha inteligência (digo eu), e sendo eu como sou...protestante por natureza...achei admirável a coragem daquele homem, arriscar morrer por algo em acreditava como a fé, que não se via...não se sentia. O curioso da coisa é que na mesma altura o miúdo foi explicando-me algumas das diferenças e o porque de Lutero se ter levantado contra uma instituição como a igreja católica romana, e na escola, fomos falando mais ou menos do menos, portanto, Deus estava mesmo a falar comigo.
Um dia cheguei à escola e recebo a noticia que um amigo, muito amigo mesmo, tinha morrido de overdose, acho que até foi até por amor...o meu coração ficou partido em mil pedaços, não porque sentia mais do que amizade por ele, mas porque, se havia Deus, porque tinha Ele permitido aquilo?
Entretanto na turma de desporto havia um desportista que estava imensamente interessado na minha genialidade, chamemos-lhe assim, sim...porque eu era um naco..ok?  E nestas coisas de miúdos, há sempre alguém que vê...que sabe...menos os pais...certo?  Já há algum tempo havia uma vizinha da minha mãe que também me andava a chatear, e era mesmo a chatear para ir à igreja...e às tantas eu pensei...:"se eu não...nunca mais se cala, o melhor é ir mesmo!" E fui...e quando eu ia a entrar, um amigo desse meu amigo especial viu eu entrar....Não vos digo o gozo que foi na semana seguinte... Voltando a esse fim de semana, espanto meu, quando vejo uma colega minha...de turma lá, e que nunca me tinha dito nada....mas fixe! passamos a ter um tema de conversa.
Obviamente e voltando à semana na escola...foi, tipo...uma cena surreal...entre convites, para ir a casa desse meu amigo especial para ir"estrelar ovos" ( na altura nós não víamos , mas ouvíamos falar no 9 semanas e meia), porque senão não gosta dele, a ser uma freira, uma testemunha de jeová...etc, etc...devo dizer que resisti a tudo...incluindo estrelar ovos...até porque tinha um medo terrível do meu pai e achava que se ele me estava a pedir era porque não era a pessoa indicada para mim.
Como sou teimosa...muito teimosa...quanto mais me chateavam por causa de ir à igreja, mais eu só para os contrariar ia, e fazia questão que todos soubessem. Agora que penso nisso , quando me dizem que os miúdos vão por causa desta ou daquele miúdo, deixem-nos ir...nunca se sabe...Deus pode falar.
O meu pai até se deu ao trabalho de confirmar algumas vezes se eu estava mesmo na igreja ou não, aparecendo de surpresa.
Assim, eu ia de Biblia para a escola, pregava na poli, provocava discuções com pessoas que sabia que tinham outros credos, ia às reuniões de jovens, aos domingos, e fazia questão que todos soubessem, e quanto mais resistência encontrava, mais era a minha vontade de continuar. E Deus foi tão bom para mim! No dia em que Ele perguntou se eu queria que Ele entrasse na minha vida, senti como, se estivesse a ser resgatada em alto mar...
Passei por maus bocados ma minha vida, muitas vezes o meu pai me proibiu de ir à igreja, mais tarde, levei o meu irmão, a minha mãe, casei na minha igreja, com o homem que acredito que foi Deus que me Deus, apresentei as minhas filhas ao Senhor lá, aprendi muito e acredito que com os melhores..
E quando o meu pai estava a morrer, a minha filha mais velha disse-me, horas antes dele partir: "Mãe, não te esqueças de orar com o vôvô"...Assim fiz...Não sei se ele aceitou Jesus como salvador. Mas senti que um capitulo da minha vida tinha terminado ali, e apenas com reticências.
E porque sou cristã e não outra coisa? porque acredito na Biblia, tal como está escrito, acredito que Deus é o Deus da segunda, terceira, quarta e por ai adiante oportunidade. Porque Deus é tão maior que nós!! E que se dessemos um bocadito mais do que damos...do que dou...este mundo seria tão melhor....